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Uma Sociedade em Formação

Descubra as raízes da cidade de Guarujá em "Uma Sociedade em Formação". Viaje pelos lineares históricos que moldaram o município, desde os povos sambaquis até a transformação balneária no século XIX. O autor, Enrique Dias, desvenda o passado por meio de documentos e histórias, revelando a rica diversidade que forjou a Guarujá contemporânea.

 

A evolução histórica da cidade de Guarujá passa por alguns lineares. O primeiro deles é o primitivo, onde por volta de oito mil anos atrás, abrigou os povos dos sambaquis. O segundo linear, indígena, ocorreu no milênio que antecedeu a chegada dos europeus. O terceiro linear, ao mesmo tempo colonial e militar, ocorre a partir de 1502, quando uma expedição portuguesa aporta em uma das praias da então Guaibê (ou Guaim-bê). O quarto linear, da ocupação e da exploração, prevaleceu por quase três séculos. No quinto linear, o que nos interessa de fato, é o que podemos chamar de a Guarujá balneária ou urbana. Há ainda um sexto linear, o contemporâneo, o das explosões imobiliária e demográfica, do turismo e das atividades portuárias.

É no quinto linear que ocorre a grande transformação da então Ilha de Santo Amaro em um aristocrático centro balneário e turístico. Essa transformação ocorre no entardecer do século XIX. Ela se deu, paralelamente, a um processo ainda maior de mudanças. O país acabara de sair de um regime imperial para tornar-se uma República. E foi dentro desse contexto que surge a Companhia Prado, Chaves, motivada possivelmente pelas novas políticas públicas na área econômica, como foi o Encilhamento (Plano Econômico implantado nos governos do Marechal Deodoro e Marechal Floriano, por Ruy Barbosa, então Ministro da Fazenda do primeiro governo).

A Companhia Prado, Chaves, criou a Companhia Balneária que adquiriu grande quantidade de terras na Ilha de Santo Amaro, mais especificamente na Praia das Pitangueiras (antiga Praia do Guarujá) e projetou uma vila balneária que urbanizava, parcialmente, a área citada. Essa urbanização ocorreu em cerca de duzentos mil metros quadrados da área conhecida, hoje, como Centro-Pitangueiras. A responsabilidade desse empreendimento coube ao engenheiro Elias Fausto Pacheco Jordão, também sócio proprietário da Companhia Balneária e cuja família também tinha controle na Companhia Prado, Chaves.

A Villa Balneária foi um projeto pensado e executado para atender a todas as necessidades daqueles que a frequentassem. O empreendedor e engenheiro Elias Fausto pensou, calculou, desenhou e contratou nos Estados Unidos, onde estudara, um conjunto de edifícios em madeira de pinho, para a composição do Complexo Balneário. Faziam parte desse conjunto: um hotel, um cassino, uma igreja, uma pequena estação de trem e cerca de quatro dezenas de chalés. Também construiu uma estrada de ferro, uma estação ferroviária-portuária e uma usina geradora de energia elétrica. Comprou quatro locomotivas, vagões e vagonetes, para a ferrovia, e duas barcas para a travessia do canal entre Santos e Itapema.

Para a execução desse projeto, houve a necessidade da contratação de muita mão de obra especializada, ou não, tanto na fase da construção e implantação, quanto na fase da operação dos serviços.

O nascimento desse polo turístico balneário acabou sendo o vetor responsável pela atração de centenas de trabalhadores que acabaram fixando-se na região. Esses moradores não eram os primeiros, pois a Ilha de Santo Amaro já contava com uma população fixa distribuída irregularmente por algumas glebas agrícolas (sítios), pequenos núcleos de casas e também por pescadores artesanais.

Assim, mesmo esses novos moradores não sendo de fato, os primeiros, ao se tratar de uma sociedade urbanizada, eles sim, foram pioneiros. E esses pioneiros tinham em comum, a diversidade de origem. Alguns já viviam na região, como na cidade de Santos, por exemplo, outros vieram da cidade de São Paulo e do interior paulista. Além deles, os estrangeiros também tiveram uma importante participação nesse pioneirismo: portugueses, espanhóis, italianos, armênios, turco-otomanos, japoneses e outras etnias, participaram da formação dessa nova sociedade.

Lamentavelmente, existem poucos registros em virtude de uma série de situações que passam por incêndios, diversas trocas do controle acionário e administrativo da Cia Balneária, transferências empresariais e políticas, além do descaso público com a História.

Tardou-se cem anos para que, abnegados pesquisadores e historiadores, começassem a produzir materiais que resgatassem a História de Guarujá, a História da Ilha de Santo Amaro.

Podemos destacar o livro Pérola ao Sol, publicado em 1992, por Monica de Barros Damasceno e Paulo Mota, e o livro Guarujá, Três Momentos de uma Mesma História, de Angela Omati Aguiar Vaz, publicado em 2003, entre outras obras que contribuíram para preservar parte da nossa história.

Essas duas obras exprimem também, a garra e a tenacidade usadas pelos autores para que, contra todas as dificuldades encontradas, conseguissem produzir e perpetuar informações que estavam desaparecendo com a destruição dos edifícios históricos e de falecimento das gerações pioneiras da fase urbana.

Com essa pequena, porém, valiosa bibliografia, demos início à nossa pesquisa que foi centrada em um primeiro momento, na história oral. O resultado foi um trabalho de conclusão de curso (TCC) da Faculdade de História, que esse autor concluiu em 2015. Nele foi apresentada a história de vinte famílias condensadas em treze “árvores genealógicas” descritivas. O próximo passo desse projeto ambicionava a publicação de um livro, cujo conteúdo teria a história dessas primeiras vinte famílias e outras vinte também já entrevistadas. No entanto, durante o processo de pesquisa, vimos que precisávamos certificar a oralidade, transformando-a em História Oral, com os fatos da época. Partimos então, em busca das fontes primárias daqueles fatos e após mais cinco anos de pesquisa e com mais de doze mil documentos pesquisados, analisados, cadastrados e organizados, concluímos que seria necessário redesenhar o projeto desta obra e disponibilizar para os leitores, um primeiro volume, basilar, com o máximo de informações possíveis, para ai sim, com essa base histórica referencial, passar a contar a história das famílias pioneiras da fase urbana da cidade de Guarujá, nos volumes subsequentes.

Texto do livro “A História de Guarujá – Fase Urbana – 1890-1956”, de autoria do escritor e historiador Enrique Dias.

Para conhecer melhor o trabalho do CEDOM (Centro de Documentação e Memórias do Guarujá) acesse o site do CEDOM GUARUJÁ

Palavras-chave: história-Guarujá, Enrique-Dias