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18/04/2017

O que querem os investidores de Harvard

Ex-alunos brasileiros da prestigiada universidade americana compõem grupo que investe em pequenas empresas brasileiras.

São Paulo, 19 de Abril de 2017 às 08:00 por Italo Rufino

O que Bill Gates, Barack Obama e Natalie Portman tem em comum?

O empresário, o ex-presidente e a atriz frequentaram os mesmos bancos universitários. Os três são ex-alunos da Universidade de Harvard, fundada em 1636 em Cambridge, nos Estados Unidos. 

Uma das características da prestigiada universidade é fomentar a relação entre seus ex-alunos. Há programas formais que promovem a formação de grupos temáticos, como de pessoas interessadas em arquitetura e urbanismo ou em causas relacionadas ao movimento LGBT.

No Brasil, há um grupo que tem como objetivo desenvolver o ecossistema empreendedor.  

Eles formam o HBS Alumni Angels of Brazil, também conhecido como Harvard Angels, associação que reúne 100 investidores-anjos brasileiros e que já viabilizou aportes de cerca de R$ 10 milhões em pequenas empresas nacionais. 

Além do grupo brasileiro, há outras associações de ex-alunos que operam de modo similar em diferentes países, entre eles Alemanha, Japão e Estados Unidos. 

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A iniciativa nacional tem como presidente Magnus Arantes, empreendedor e investidor sócio da NXTP Labs, fundo de investimento “early stage” que possui 150 empresas em seu portfólio. 

Entre 2008 e 2010, Arantes cursou em Harvard um programa de graduação executiva exclusivo para empresários.

“A experiência foi ótima para criar uma boa rede de contatos”, afirma Arantes. “Há uma solidariedade natural entre os alunos e sempre há alguém com conhecimento e disposição para ajudar”. 

Em 2012, de volta ao Brasil, Arantes foi convidado pela instituição para criar o grupo brasileiro de investidores. Ele também passou a integrar o conselho global dos anjos. 

EM BUSCA DE NEGÓCIOS PROMISSORES 

Atualmente, o grupo brasileiro possui investimentos em oito startups. Entre elas a DMI, agência de intercâmbio online, e Agendor, que desenvolve software de gestão de vendas. 

O processo de seleção tem início com empreendedores enviando apresentações formais de suas empresas para o grupo. As mais promissoras são convidadas para uma reunião formal, que tem edições a cada seis semanas. 

O grupo já avaliou empresas do mercado pet, de cosméticos e até de panificação. No entanto, negócios de tecnologia costumam ser escolhidos devido ao maior potencial de crescimento. 

Outro critério crucial de seleção é a startup ter empreendedores com perfis complementares. Isso favorece a escolha de empresas que tem à frente uma pessoa técnica junto com outra que tem um forte perfil para os negócios, ou seja, com um empreendedor que entende de Administração. 

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O grupo também realiza uma diligência na empresa para identificar possíveis riscos jurídicos e operacionais. Já houve casos, por exemplo, de startups que sonegavam impostos e que também não contratava corretamente os funcionários. 

Os membros do grupo não necessariamente investem em todas as empresas que são selecionadas. O valor dos aportes costuma variar de R$ 500 mil a R$ 1,2 milhão. O que corresponde a geralmente de 10% a 20% de participação no negócio. 

Após a conclusão do negócio, dois investidores são nomeados e se responsabilizam pelo contato direto com a startup. 

No rol de tarefas dos representantes está a de orientar os empreendedores sobre boas práticas de gestão, como governança corporativa. Embora não tenham poder de decisão, os investidores costumam opinar em decisões estratégicas. 

A cada seis meses, o grupo promove happy hours em sua sede, no coworking Cubo, mantido pelo Itaú. 

O encontro promove a reunião de diferentes empreendedores e investidores, para que troquem ideias e experiências, gerando possíveis indicações de clientes e parceiros. 

“Encontrar pessoas que estão vivendo situações parecidas ou que já passaram pelos mesmos desafios é muito bom para a saúde mental do empreendedor”, afirma Arantes. 

ECONOMIA CRIATIVA

Recentemente, um estudo realizado pela Fundação Dom Cabral abordou as dificuldades de financiamento que atingem os empreendedores criativos, aqueles que atuam num mercado baseado em informação, conhecimento e criatividade – e inclui áreas como arquitetura, design, turismo, gastronomia, moda e música. 

Na opinião de Arantes, independentemente do mercado de atuação, é necessário que haja um sócio com perfil administrador para obter financiamento. 

Ele usa como exemplo a Clap.Me, plataforma virtual de transmissão de espetáculos, como shows musicais e de humor, que recentemente recebeu aporte do Harvard Angels.

Um dos diferenciais da empresa é ter empreendedores focados em diferentes áreas, como técnica (instalação de câmeras de filmagem e transmissão de vídeos) e de negócios, que acompanha indicadores de desempenho e resultados financeiros.

“Pode haver o criativo, mas tem de ter a pessoa que entenda a língua dos negócios”, diz Arantes. 

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DIFERENTES AMBIENTES DE NEGÓCIOS 

De acordo com uma pesquisa sobre investimentos privados, realizada pela Harvard Angels, a relação entre o total de investimento brasileiro em pesquisa e o PIB nacional é de apenas 1,16% -- e grande parte do montante é proveniente do governo. 

Nos Estados Unidos, a relação é de 2,79% com o setor privado sendo responsável por cerca de 70% dos investimentos. Um dos fatores que leva a tal disparidade é o ambiente dos dois países, que molda a atuação das empresas. 

“Os Estados Unidos possui um ambiente mais favorável aos negócios, o que gera mais competição e eleva o nível de excelência e eficiência das empresas”, diz Arantes. 

E o que resta para o Brasil? 

“Embora o país sofra com alta taxa de juros, carga tributária e burocracia, ainda existem muitas oportunidades de negócios para desbravar, exatamente por ser um ambiente em desenvolvimento”, afirma. 

FOTO: Divulgação